quinta-feira, 7 de maio de 2009

Caras e Bocas

Ao entrar na sala, sem bater na porta, percebe que ali está sendo realizada uma reunião. Com a boca, a intrusa faz uma “cara” demonstrando o constrangimento de ter chegado à sala em hora imprópria. A expressão denominada de “cara” queria transmitir a seguinte mensagem: eu não sabia que vocês estavam em reunião, volto mais tarde.

Impressionante a capacidade de uma boca (digo, “cara”, ou melhor, expressão facial) tem de transmitir uma ideia, com sucesso e em frações de segundos, sem recorrer à língua (tanto o idioma, quanto o órgão localizado na cavidade bucal). É claro que uma “boca” (boca) só não faz verão, junto à expressão significante (significado e significativo) é necessário ressaltar a importância (de igual ou maior tamanho) do contexto a qual está inserida. Como o órgão beijoqueiro, ao expressar-se, necessita da contextualização do olhar, franzir da testa, contrair das sobrancelhas, a “cara” também depende de uma história por trás para que lhe atribuam o significado.

Falando em contexto, não se pode deixar de mencionar o repertório do emissor e do receptor da mensagem. O emissor - no caso a intrusa - pressupõe a capacidade do receptor - no caso os indivíduos em reunião - de inferir o significado, idealizado por ela, à sua “boca”. Devido a tantos fatores subjuntivos, a intrusa - desfazendo a “cara” que fizera ao entrar na sala e deparar-se com a reunião - retirou-se do recinto sem saber ao certo se fora compreendida. Do lado de dentro da sala, a reunião continuou, indiferente. Com muitas caras e bocas.