sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Fragrância

   
    Invariavelmente, em qualquer situação, gostava de provocar. Utilizava todos a sua volta como cobaias. Era asqueroso: peidava em público com a maior naturalidade. E, ao contrário da maioria, não se sentia constrangido em momento algum. Era tão natural a atitude que tinha ao peidar que quem ficava constrangido eram os outros que inalavam seu perfume.

    Foi sempre assim. Já na escola, quando criança, peidava deliberadamente em sala de aula; seu apelido era Peidão, exceção à regra, pegara apesar do gosto do apelidado pelo apelido. Até a professora se constrangia, ninguém mais sentava ao seu lado, havia um vácuo de carteiras a sua volta. Começou com um simples peidinho silencioso que deixara escapar um pequeno ruído condenatório, depois até forçava para deixá-lo barulhento, chegou a um ponto em que fazia posições, levantava uma das pernas e soltava a bufa. Era tão gostoso, o poder de constranger, pois pouco importava o que falavam dele pelas costas, afinal de contas, o que tinha importância eram as expressões de nojo e constrangimento que tirava dos rostos alheios.

    Agora, já velho, gosta de sair por aí e peidar, ver os rostos de espanto e de compaixão, pois pensam que o pobre velhinho não consegue nem mais segurar as pregas. Era só uma nova tática que a idade lhe propiciava.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Preocupação


    Saí de casa matutando, incomodado com uma situação; preocupado, como só mais tarde veria, à toa. Amanhã, vejo, como só no futuro poderia ver, que aquela situação de modo algum me incomodara. Hoje, chegou até a perturbar meus pensamentos, mas, amanhã, diz-me nada, é irrelevante. Porém, no momento em que ocorreu, não enxergara, aquela discussão realmente empesteou meus pensamentos, e fizera-me sair de casa matutando incomodado.

    Como pude pô-la em primeiro plano, se, amanhã, compreendo perfeitamente a indiferença que ela se encontra? Sinto-me tolo bem por causa disto, da irrelevância que só amanhã consigo ver. Se previsse, como suponho que poderia prever, o sentimento de indiferença, que amanhã sinto, não perderia o dia todo pensando sobre a discussão.

    Desgasto-me, amanhã, em vão, como já houvera me desgastado hoje, tão em vão como amanhã, e igualmente em vão me desgastarei depois de amanhã, perguntando-me porque me desgastara, amanhã e hoje, com pensamentos sem importância.

    Um dia não me preocuparei mais.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Vômito


    Vício. Não há outra explicação senão o vício. Não sei se se pode chamar de vício; ou se vício seria a designação mais adequada. Por falta de vocabulário, ou talvez por falta de ciência do que realmente é, denominarei vício. Sem contar os outros dois hábitos, que eu já posso tomar como vício –  beber café e fumar -, apesar de que, principalmente o primeiro, eu não considere vício, mas como ingiro diversas doses ao dia, devo chamar de vício, pelo menos é assim que esperam que eu chame, porque, de outra maneira, eu seria tido como um viciado de qualquer forma, um viciado ainda mais viciado, que nem admite o próprio vício. Cigarro, até que, de certo modo, me considero viciado, mas, no âmago, não me considero, porém, tendo a me considerar, ademais, se eu não me considerasse, pensaria que isto seria apenas um truque da minha própria mente, tentando me iludir. Então, para todos os efeitos, digamos que eu seja viciado em café e em cigarro, e estou a um passo de considerar, sentar a bunda na cadeira e redigir um texto medíocre a respeito de minhas entranhas, um vício. Já tendo a achar ruim, porque, qualquer vício, por mais inofensivo que seja, é sempre um vício, e vício nunca é visto com bons olhos. Carregar o peso da palavra viciado é sempre um estorvo. Pior seria, carregar o peso da palavra viciado sem admitir que se é um viciado, por isso, talvez, admita.
   
    Não há razão para que eu pare, pelo menos não agora. Também não há razão para que continue, não agora. Talvez seja a necessidade de expor as entranhas. Tô com vontade de cagar. Era isso.

domingo, 25 de outubro de 2009

Redundância Redundante

   
   Voltei pra esse demonho. Voltei para o sublinhar incessante. Sem problemas, já estou acostumado, ou penso estar. Tá parecendo mais uma continuação do outro post; será que agora só vou escrever assim?, sobre essas inutilidades escritórias... Imagino que não. Pararei por aqui. Nada de tá, escritórias, começar frases com pronome oblíquo, nada disso. Voltarei à chatice de antes, não que isto aqui não seja chatice. Opa, já ia me esquecendo, sem repetições também, mas vou deixar esta última passar por preguiça. Agora, vou dar uma desculpa para falta de assunto: perdi o fio da meada porque a campainha do telefone soou e atendi e falei durante poucos minutos. Só o que me resta, neste instante, é falar baboseira, é discorrer sobre a falta de assunto. Aquela velha história já ensebada: escrever sobre vísceras; que tática mais mesquinha. Bolei um título agora, que, de repente, será uma grande justificativa para todo este engodo seboso.

    Veja o tão podre posso ser. Escrevo e denigro e viscero (fui obrigado a criar este verbete aqui, mesmo já tendo prometido não o fazer mais), assim fica claro que tenho ciência da besteira que estou falando, assim, acho eu, torna-se mais tragável para ti e para mim; faz-me pensar que poderia produzir um texto melhor e faz-te imaginar o quão criativo e engraçadinho é este blogueiro. “Tem, pelo menos, senso de humor, e isso já é alguma coisa”. Denunciei-me, o que estás a pensar (estás a penar, que coisa mais lusitana) agora é que sou realmente mesquinho, produzir um texto só para ti pensares que, se, não sei escrever sobre qualquer assunto, tenho senso de humor para tirar sarro de mim mesmo. E se parares pra pensar bem, acabei reler o texto, até agora não falei nada com nada, ou melhor, falei nada com nada, ou melhor ainda, falei nada, ou disse coisa alguma. Esta última frase mesmo... E está última... E esta... E... E é claro que isto é só retórica; e o que não é retórica? Hein, hein?


segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Blasfêmia


Comecei pelo título mesmo. Nem me dei o trabalho de abrir o word, vou por aqui mesmo, seja o que Deus quiser. Seja o que eu quiser. Pensei em ir direto ao assunto; resolvi dar uma embromeichon. Aqui, consigo até escrever embromeichon sem problemas, odeio o sublinhar vermelho do word, me irrita. Ou o verde, posso começar uma oração com um me. Nunca tinha pensado nisso, mas, às vezes, o word pode constranger um tanto a liberdade poética. Por outro lado, pelo tamanho do retângulo que tenho para escrever diretamente pelo blog, acabo tendendo a me limitar a redigir pouco, odeio essa mania também de sinônimos, queria mesmo escrever que acabo tendendo a me limitar a escrever pouco, só por essa justificativa terei que escrever (repetir) - ó aí ó, a terrível mania de fugir das repetições das palvras - escrever um número maior ainda de vezes, só para constar que foi proposital a repetição condenada. A frase originalmente formulada ficaria, e vai ficar: ... acabo tendendo a me limitar a escrever pouco. É isso aí. Gosto de repetições. Gosto de escrever errado, gosto de começar frases com pronome oblíquo.


Está acabando o maldito retângulo, é claro que ele não é limitatório (mais uma vez terei que justificar, simplesmente não quis escrever limitador, acho mais bonito limitatório), mas acaba influenciando a escrever menos, não gosto de ver escrito só o que o retângulo suporta, gosto de ver o texto na íntegra, sei que na hora da postagem aparecerá por inteiro, de qualquer forma, tanto escrever no word, como no próprio blog, me incomoda. Talvez um dia me acostume, talvez não. Talvez. É óbvio que é talvez, o que na vida não é talvez (ponto de interrogação). Enfim, di-lo-ei a quê vim. Ah, também gosto dessa merda aí de mesóclise, pode ser um tanto controverso, mas, afinal, pra que tenho blog, se não é pra blasfemar livremente, mesmo, muitas vezes, eu me auto-censurando. Então, voltando ao assunto principal, ou inicial, ou o que fora considerado por mim a inspiração para começar este post: eu abandonei a leitura de "Hamlet". Abandonei, (interrompi o aparelho de DVD quando assistia, qualquer merda de substituição sinonímia) duas vezes, "2001, uma Odisséia no Espaço", entre outras tantas blasfêmias que já cometi. É claro que é só retórica. Agora o final deste post tá me complicando, tô com sono e preguiça de continuar escrevendo e preguiça de ir pra cama e preguiça de levantar da cadeira e preguiça de bolar um final. Certas horas até receio em me arrepender de admitir essas blasfêmias, tem outras tantas que preferi ocultar. Outros livros e filmes inacabados. É isso aí (pensei em um final assim: prefiro blasfemar para os outros do que blasfemar pra mim; obviamente me auto-censurei e não tive coragem de colocar um final destes).

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Jaspion e Gabriel


Jaspion, eu, Gabriel Pensador e Zé.

Pior (ou melhor) de tudo: os três tocavam na mesma banda. E pra quem não acreditava em mim, quando contava a história, tá aí a prova.