quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Aos anos velhos e aos anos novos


Balanço do anus: 750 cagadas.
Para o próximo, desejo: 750 cagadas.
Passar a virada de marrom
Seria sensato.

Comilança e bebida
Até o cú fazer bico.
No primeiro do ano,
Uma bela cagada.

Faltam 749.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Hospital psiquiátricos e Centros Espíritas


   Eu estava internado em um hospital psiquiátrico há três dias. Já começava a sentir vontade de me matar. Descobri que minha prima também era interna do hospital. Ela vomitou seu espírito em um copo. Me falaram que se eu tomasse o espírito dela eu morreria. Foi o que eu fiz, foi o que ela fez. Quer dizer, ela tomou mais do que eu, eu desisti no meio porque percebi que aquela horrível experiência poderia me render um bom livro, e tentei me livrar da morte vomitando o espírito vomitado. Foi uma loucura quando acordei.

 

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Eliane Brum contra os clichês

    Texto magnífico da Eliane Brum . É mais fácil deixar-se moldar do que moldar-se. Só apagando as vozes exteriores e escutando as interiores é que faz sentido. O resto é balela. É esta a síntese da minha interpretação de seu texto.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

delongasculpa ou deculpalongas

   
    Não adianta. O negócio é sentar e escrever. Sem recuar. Sem pensar. Sem estratagema. Sentou, escreveu, tá pronto. O problema são as veadagens, digo, preocupações que atormentam o imaginário: que nunca tá bom o suficiente, que poderia ser melhor, que alguém lerá e não gostará; essas boiolices todas, ou todas essas boiolices, sei lá. Só o que faltava é ter a ambição de escrever um baita texto num blog, ainda mais no meu que é lido por meia dúzia de gatos pingados – quero deixar bem claro que não estou menosprezando os gatos pingados, só estou menosprezando meu blog, apenas isso. Então o negócio mesmo é sentar e escrever. Sentei, escrevi, pronto. Pode perceber, você leitor, você leitora – ou você leitora, você leitor, antes que alguma feministazinha barata venha me questionar a respeito da ordem dos gêneros -, que há tempo venho escrevendo sobre escrever, isso tudo por causa da falta de criatividade, e bem por isso tenho que menosprezar meu blog para não me menosprezar, desdenhando-o consigo um argumento, plausível ou não, que me legitime escrever sobre escrever.

    Então faço assim: escrevo sobre escrever e vomito um emaranhado de justificativas confusas com intuito de me safar. Vê se pode um troço desses? Fico eu aqui, dizendo pra mim mesmo – mentalmente, tá?, não estou ou sou tão louco assim -, arranjando desculpas para não ter que pensar em algo de novo para postar aqui, ou digo que faço isso pra não ter que pensar em algo novo porque na realidade não consigo pensar, realmente, em algo novo, neurose, neurose, neurose, e por aí vai. Veja, você, que eu disse que não estou ou sou tão louco ao ponto de falar sozinho, mas justificar-me perante uma massa (meia dúzia de gatos pingados) sem rosto e entrar em um ciclo neurótico vicioso de justificativas tudo bem pra mim. Quanta incoerência, quanta neurose, quanta mentira. E só mais uma coisa, odeio esse tipo de gente que fica se justificando o tempo todo.

sábado, 14 de novembro de 2009

O elevador caiu pra cima

 
    Eu, particularmente, em minha própria opinião, expresso toda a revolta, advinda do meu âmago, que possuo dentro de mim mesmo. Mais precisamente, quando digo que subir pra cima ou descer pra baixo não são pleonasmos, não estou apenas defendendo uma hipótese absurda criada por um insano com disponibilidade ociosa muito maior do que deveria, possibilitando, assim, uma teoria conspiratória a respeito de pleonasmos, quero, realmente, dizer que tem fundamento baseado, principalmente, na especificidade de que um considerado pleonasmo possa acrescentar a uma ideia.
    Por exemplo, esses dias, soube duma história, e não soube duma estória, de um elevador que caiu pra cima. O cara saiu branco, não chegou a se machucar, mas é óbvio que qualquer queda de elevador, em qualquer direção, tanto pra cima como pra baixo, tem o poder de causar espanto. E claro que também causou-me interrogações, afinal, contaram-me que o elevador caíra pra cima. Mas achei a explicação bem plausível, aliás, a única maneira de expressar que o contra-peso, que equilibra e dá a cadência certa ao elevador, rompera e fizera com que o elevador subisse, subitamente, até o último andar, como consequência a brancura do homem que caiu pra cima. E ele disse que o elevador caiu, e caiu mesmo, não haveria outra maneira de contar este fato, sem entrar em maiores delongas, do que dizer que o elevador caiu pra cima, porque o sentimento foi de queda, de o quedar súbito, e a expressão que melhor designa isso, por mais absurda que possa parecer, é: o elevador caiu pra cima.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

"Liberdade: uma destas detestáveis palavras que tem mais valor que significado"


    Negros descem e sobem a montanha, carregam pedras e troncos. Do cume, após um dia de trabalho regado a suor e cansaço, almejam, com os olhos embotados de pôr-do-sol escondendo-se na unção entre oceano e horizonte, de meninos e meninas brincando pelas ruas de paralelepípedo, de senhores e senhoras rindo e bebendo vinho e de casinhas, construídas umas encostadas às outras, de tão felizes famílias livres, um dia, nem que seja nos fins de suas vidas, serem livres.

    Abraçado ao negrinho, o já velho, porém forte, negro, com os olhos tentados a transbordar desesperança, disfarça e tenta expressar um esboço de esperança.

    - Um dia o teu filho irá brincar de bola igual àquelas crianças, um dia beberás vinho com tua mulher e sorrirás alegremente.

    O negrinho, sabendo do esforço de seu avô em tentar poupá-lo, sorri dissimuladamente, tentando persuadi-lo que cria em tudo o que o mais velho contava. Era esperto o suficiente para perceber que aquelas estórias que escutava não passavam de estímulos enganosos com intuito de não permitir aos negrinhos perderem a vontade de viver.

    Mesmo sem vontade, e sem condições de atribuir sentido algum ao seu dia-a-dia, continuava a rotina, dia sobre dia subindo e descendo a montanha, carregando pedras e troncos, para construir sei-lá-o-que para sei-lá-quem.

    O agora não mais negrinho, no fim dos seus dias, encontra-se abraçado ao seu neto, após um longo dia de trabalho, no cume da montanha, observando o pôr-do-sol.



sábado, 7 de novembro de 2009

Utilidade Pública

Consegui postar nada. Não consegui postar nada. Se não consegui postar nada é porque consegui postar algo. Se postei algo é porque não consegui postar nada. Se consegui postar nada é porque não postei algo. Se não postei algo é porque postei nada. Queria postar nada. Não consegui postar nada.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Redutor de neura


    Jogo. Leste jôgo ou jógo? Tá, foi só um caricaturismo. Pára com isso. Agora, com essa palhaçada (acordo ortográfico), seria: Para com isso. E se só colocasse Para com isso, sem antes contextualizar... Ambíguo? É, eu sei. Pediria um complemento, no segundo caso [(Para usado como preposição) te subestimo demais? É fruto da neurose de ser incompreendido]. Porventura, quisesse eu,  por motivo qualquer, frasear de maneira incompleta, sem contextualizar, ficaria à mercê da tua interpretação (obviamente, sempre fico, mais ainda sem o acento diferencial).

    Pra quê simplificar se se pode complicar? As nuanças da língua propiciam maior proximidade - não significa que chegarei a estar próximo de ti -, menor desaproximação (afastamento). A minúcia, a meticulosidade, o pequeno detalhe (tá!, não vou ficar explicando aqui o pleonasmo do pequeno detalhe e nem os sinônimos “desnecessários”) são, necessariamente (invariavelmente), necessários, principalmente pra ti e pra mim, pois permitem a diminuição das neuras. Será que entendi o que quiseste que eu entendesse [(aqui, há uma rápida inversão de pessoa em relação ao pronome - o escritor se transforma na segunda do singular e o leitor  na primeira - para, na frase seguinte, voltar ao que era) ficou um tanto rodapé e quebrou a fruição, fazer o quê?]? Será que entendeste o que quis que entendesses?

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Fragrância

   
    Invariavelmente, em qualquer situação, gostava de provocar. Utilizava todos a sua volta como cobaias. Era asqueroso: peidava em público com a maior naturalidade. E, ao contrário da maioria, não se sentia constrangido em momento algum. Era tão natural a atitude que tinha ao peidar que quem ficava constrangido eram os outros que inalavam seu perfume.

    Foi sempre assim. Já na escola, quando criança, peidava deliberadamente em sala de aula; seu apelido era Peidão, exceção à regra, pegara apesar do gosto do apelidado pelo apelido. Até a professora se constrangia, ninguém mais sentava ao seu lado, havia um vácuo de carteiras a sua volta. Começou com um simples peidinho silencioso que deixara escapar um pequeno ruído condenatório, depois até forçava para deixá-lo barulhento, chegou a um ponto em que fazia posições, levantava uma das pernas e soltava a bufa. Era tão gostoso, o poder de constranger, pois pouco importava o que falavam dele pelas costas, afinal de contas, o que tinha importância eram as expressões de nojo e constrangimento que tirava dos rostos alheios.

    Agora, já velho, gosta de sair por aí e peidar, ver os rostos de espanto e de compaixão, pois pensam que o pobre velhinho não consegue nem mais segurar as pregas. Era só uma nova tática que a idade lhe propiciava.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Preocupação


    Saí de casa matutando, incomodado com uma situação; preocupado, como só mais tarde veria, à toa. Amanhã, vejo, como só no futuro poderia ver, que aquela situação de modo algum me incomodara. Hoje, chegou até a perturbar meus pensamentos, mas, amanhã, diz-me nada, é irrelevante. Porém, no momento em que ocorreu, não enxergara, aquela discussão realmente empesteou meus pensamentos, e fizera-me sair de casa matutando incomodado.

    Como pude pô-la em primeiro plano, se, amanhã, compreendo perfeitamente a indiferença que ela se encontra? Sinto-me tolo bem por causa disto, da irrelevância que só amanhã consigo ver. Se previsse, como suponho que poderia prever, o sentimento de indiferença, que amanhã sinto, não perderia o dia todo pensando sobre a discussão.

    Desgasto-me, amanhã, em vão, como já houvera me desgastado hoje, tão em vão como amanhã, e igualmente em vão me desgastarei depois de amanhã, perguntando-me porque me desgastara, amanhã e hoje, com pensamentos sem importância.

    Um dia não me preocuparei mais.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Vômito


    Vício. Não há outra explicação senão o vício. Não sei se se pode chamar de vício; ou se vício seria a designação mais adequada. Por falta de vocabulário, ou talvez por falta de ciência do que realmente é, denominarei vício. Sem contar os outros dois hábitos, que eu já posso tomar como vício –  beber café e fumar -, apesar de que, principalmente o primeiro, eu não considere vício, mas como ingiro diversas doses ao dia, devo chamar de vício, pelo menos é assim que esperam que eu chame, porque, de outra maneira, eu seria tido como um viciado de qualquer forma, um viciado ainda mais viciado, que nem admite o próprio vício. Cigarro, até que, de certo modo, me considero viciado, mas, no âmago, não me considero, porém, tendo a me considerar, ademais, se eu não me considerasse, pensaria que isto seria apenas um truque da minha própria mente, tentando me iludir. Então, para todos os efeitos, digamos que eu seja viciado em café e em cigarro, e estou a um passo de considerar, sentar a bunda na cadeira e redigir um texto medíocre a respeito de minhas entranhas, um vício. Já tendo a achar ruim, porque, qualquer vício, por mais inofensivo que seja, é sempre um vício, e vício nunca é visto com bons olhos. Carregar o peso da palavra viciado é sempre um estorvo. Pior seria, carregar o peso da palavra viciado sem admitir que se é um viciado, por isso, talvez, admita.
   
    Não há razão para que eu pare, pelo menos não agora. Também não há razão para que continue, não agora. Talvez seja a necessidade de expor as entranhas. Tô com vontade de cagar. Era isso.

domingo, 25 de outubro de 2009

Redundância Redundante

   
   Voltei pra esse demonho. Voltei para o sublinhar incessante. Sem problemas, já estou acostumado, ou penso estar. Tá parecendo mais uma continuação do outro post; será que agora só vou escrever assim?, sobre essas inutilidades escritórias... Imagino que não. Pararei por aqui. Nada de tá, escritórias, começar frases com pronome oblíquo, nada disso. Voltarei à chatice de antes, não que isto aqui não seja chatice. Opa, já ia me esquecendo, sem repetições também, mas vou deixar esta última passar por preguiça. Agora, vou dar uma desculpa para falta de assunto: perdi o fio da meada porque a campainha do telefone soou e atendi e falei durante poucos minutos. Só o que me resta, neste instante, é falar baboseira, é discorrer sobre a falta de assunto. Aquela velha história já ensebada: escrever sobre vísceras; que tática mais mesquinha. Bolei um título agora, que, de repente, será uma grande justificativa para todo este engodo seboso.

    Veja o tão podre posso ser. Escrevo e denigro e viscero (fui obrigado a criar este verbete aqui, mesmo já tendo prometido não o fazer mais), assim fica claro que tenho ciência da besteira que estou falando, assim, acho eu, torna-se mais tragável para ti e para mim; faz-me pensar que poderia produzir um texto melhor e faz-te imaginar o quão criativo e engraçadinho é este blogueiro. “Tem, pelo menos, senso de humor, e isso já é alguma coisa”. Denunciei-me, o que estás a pensar (estás a penar, que coisa mais lusitana) agora é que sou realmente mesquinho, produzir um texto só para ti pensares que, se, não sei escrever sobre qualquer assunto, tenho senso de humor para tirar sarro de mim mesmo. E se parares pra pensar bem, acabei reler o texto, até agora não falei nada com nada, ou melhor, falei nada com nada, ou melhor ainda, falei nada, ou disse coisa alguma. Esta última frase mesmo... E está última... E esta... E... E é claro que isto é só retórica; e o que não é retórica? Hein, hein?


segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Blasfêmia


Comecei pelo título mesmo. Nem me dei o trabalho de abrir o word, vou por aqui mesmo, seja o que Deus quiser. Seja o que eu quiser. Pensei em ir direto ao assunto; resolvi dar uma embromeichon. Aqui, consigo até escrever embromeichon sem problemas, odeio o sublinhar vermelho do word, me irrita. Ou o verde, posso começar uma oração com um me. Nunca tinha pensado nisso, mas, às vezes, o word pode constranger um tanto a liberdade poética. Por outro lado, pelo tamanho do retângulo que tenho para escrever diretamente pelo blog, acabo tendendo a me limitar a redigir pouco, odeio essa mania também de sinônimos, queria mesmo escrever que acabo tendendo a me limitar a escrever pouco, só por essa justificativa terei que escrever (repetir) - ó aí ó, a terrível mania de fugir das repetições das palvras - escrever um número maior ainda de vezes, só para constar que foi proposital a repetição condenada. A frase originalmente formulada ficaria, e vai ficar: ... acabo tendendo a me limitar a escrever pouco. É isso aí. Gosto de repetições. Gosto de escrever errado, gosto de começar frases com pronome oblíquo.


Está acabando o maldito retângulo, é claro que ele não é limitatório (mais uma vez terei que justificar, simplesmente não quis escrever limitador, acho mais bonito limitatório), mas acaba influenciando a escrever menos, não gosto de ver escrito só o que o retângulo suporta, gosto de ver o texto na íntegra, sei que na hora da postagem aparecerá por inteiro, de qualquer forma, tanto escrever no word, como no próprio blog, me incomoda. Talvez um dia me acostume, talvez não. Talvez. É óbvio que é talvez, o que na vida não é talvez (ponto de interrogação). Enfim, di-lo-ei a quê vim. Ah, também gosto dessa merda aí de mesóclise, pode ser um tanto controverso, mas, afinal, pra que tenho blog, se não é pra blasfemar livremente, mesmo, muitas vezes, eu me auto-censurando. Então, voltando ao assunto principal, ou inicial, ou o que fora considerado por mim a inspiração para começar este post: eu abandonei a leitura de "Hamlet". Abandonei, (interrompi o aparelho de DVD quando assistia, qualquer merda de substituição sinonímia) duas vezes, "2001, uma Odisséia no Espaço", entre outras tantas blasfêmias que já cometi. É claro que é só retórica. Agora o final deste post tá me complicando, tô com sono e preguiça de continuar escrevendo e preguiça de ir pra cama e preguiça de levantar da cadeira e preguiça de bolar um final. Certas horas até receio em me arrepender de admitir essas blasfêmias, tem outras tantas que preferi ocultar. Outros livros e filmes inacabados. É isso aí (pensei em um final assim: prefiro blasfemar para os outros do que blasfemar pra mim; obviamente me auto-censurei e não tive coragem de colocar um final destes).

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Jaspion e Gabriel


Jaspion, eu, Gabriel Pensador e Zé.

Pior (ou melhor) de tudo: os três tocavam na mesma banda. E pra quem não acreditava em mim, quando contava a história, tá aí a prova.

domingo, 27 de setembro de 2009

Por que gastei 34 reais em livros?









Esses dias senti vontade de roubar três livros. O jogador, Dostoiévski, Carta ao pai, Kafka e Assassinatos na Rua Morgue, Poe. Não por falta de dinheiro, eram edições de bolso, paguei 34 reais neles, mas pela fila enorme e o pouco número de atendentes em comparação a quantidade de clientes que se encontravam na livraria. Na fila, li algumas páginas de Carta ao pai, tem 109 páginas, pensei em finalizá-lo em um canto calmo, esperar a fila diminuir e só pagar pelas outras duas obras, só pensei. Me policiei, continuei na fila, afinal não sou melhor que ninguém, esses tipos de pensamentos comuns assim, utilizados para o auto-convencimento, e paguei pelos três. Percebi que estas cento e nove páginas, logo logo, seriam vencidas por mim, sem esforço, é uma leitura que flui, flui mais rapidamente do que deveria, devota-se menos tempo a ela do que mereceria, poderia matá-la ali, economizar e não trazê-la pra casa, não o fiz, paguei pelos três. Talvez por sentimento de apreciação de olhar para a capa roxa e deparar com o escrito em branco e em caixa alta KAFKA e logo abaixo, com letras um pouco mais finas, CARTA AO PAI, o retrato preto e branco estampado, é significante tê-lo em minha estante, é encantador olhar para a capa. Enfim, é bom tê-lo para podê-lo apreciá-lo quando bem entender, para lê-lo com calma.

Paguei pelos três, mesmo sem nunca ter lido nenhuma outra obra de nenhum destes autores, só uns contos e poesias de Poe, paguei-los por certos motivos: a grife intrínseca; o texto avassalador das primeiras páginas; e o primordial: eram de bolso, baratos e fáceis de manusear. Ah, tem um motivo bem claro para eu ter comprado O jogador, eu adoro pôquer, adoro jogos de cartas, não pude resistir a um livro que trata de jogos com a grife do Dostoiévski. Assassinatos na Rua Morgue fui influenciado a levá-lo para casa, além dos motivos já citados, porque queria conhecer a morbidez de Poe, veja que já falo aqui como se fosse um conhecedor. Não sei se, por causa da grife intrínseca, as capas parecem altamente persuasivas e enigmáticas, confesso que as capas, de um modo menor, junto aos outros requisitos, me levaram a pagar pelos três. Queria tê-los, e os tenho, ainda não por inteiro, ainda não os li, mas os tenho, são meus. Sou um cara que leu, lê ou lerá, Poe, Kafka e Dostoiévski. Sou um cara culto.

sábado, 26 de setembro de 2009

Metamorfose Escatológica


Imaginem, vocês, o raciocínio lerdo, atormentado por uma fagulha que insiste em não parar de cutucar o fundo raso da cabeça deste humilde que vos fala. Imaginem a ânsia, a angústia de materializar e exteriorizar, nem que seja o pior dos excrementos, nem que sejam as vísceras. Falar das vísceras é um troço complicado, tem grande chance de ficar um tanto, digamos, lugar comum, talvez piegas, ou até uma exibição disfarçada de autocrítica. Tática mais velha que subir pra cima (essa frase também está desgastada). Enfim, a artimanha de escrever sobre vísceras, e ainda antecipar o leitor expondo as mazelas do próprio texto, é mesquinha. Claro que pode sair um bom texto, sobre qualquer assunto pode-se escrever textos bons; não aqui, não hoje, é claro. Esse negócio de tentar ser humilde tá ficando chato. Essa coisa de ser arrogante também. Pior ainda é essa mania de tentar achar um meio termo para tudo. Tudo agora é a porra do bom senso. “Nem de mais nem de menos”. “Tudo que é demais faz mal, até água”. “Nem tanto ao céu, nem tanto ao mar”. Chavões ensebados no dia-a-dia. Poderia dizer que entram por um ouvido e saem pelo outro. Não, não poderia. Aquele sebo fica entranhado nos tímpanos, entrou e saiu, mas a gosma melequenta perpetua. Não se dá tempo para secar.

É tão visceral que, ao falar de entranhas, este, nem humilde, nem sabido, nem meia-boca (ou tudo isso junto), que vos fala, é obrigado a dividir estes ditos populares de merda que atormentam seus pobres ouvidos. Está tão entranhado que, ao falar de vísceras, este obriga-se a compartilhar a baba que lhe escorre pelos ouvidos todos os dias, aquela gosma grudenta que insiste, em vão, em limpar. Às vezes é bom olhar para dentro e deixar o bolo fecal sair. Vomitar, cagar, arrotar, escarrar, mijar, peidar. Depositar tudo num papel branco e depois jogar fora. Esgoto abaixo, mar abaixo, rua abaixo... Expor as entranhas, vísceras e bolo fecal a todos numa folha, que outrora, fora um belo pedaço de papel branco.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Diálogo

- Acha que se devia glorificar a bebida?
- Não mais do que qualquer outra coisa...
- Beber não é uma doença?
- Respirar é uma doença.
- Não acha os bêbados condenáveis?
- Acho, a maioria. E também a maioria dos abstêmios.
- Mas quem se interessa pela vida de um bêbado?
- Outro bêbado.
- Acha beber muito um hábito socialmente aceitável?
- Em Beverly Hills, sim. Na sarjeta, não.


Trecho do romance Hollywood, de Chales Bukowski

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

A Emoção de Zé e Ulisses



Contradição, a marca de uma obra. O autor expõe suas mazelas, assina o atestado de mortal. Nivela-se. Não por baixo, nem por cima; nivela-se. Escreve, expõe suas mazelas; contradiz-se. Esta é a marca do mortal, do humano; aproxima-se. A sinceridade aglutina autor-obra e leitor. A exposição toca e é facilmente identificável pelo leitor, que se vê dentro da obra, dentro do escritor, são amigos, mais que isso, padecem dos mesmos sentimentos, são gente, são comuns, são mortais.
Os mesmos rancores e aflições, as mesmas euforias e medos, alegrias e desilusões, inerentes a ambos. Tão iguais e, ao mesmo tempo, tão singulares. São humanos, são mortais. Ninguém é herói nem vilão, extraordinário ou comum, os dois são extraordinários e comuns, heróis e vilões. De perto ninguém é herói nem comum, todos são Ulisses e Zés, foi alguma coisa assim que Eliane Brum disse, concordo.
Concordo também quando Charles Bukowski fala do medo da emoção, de obras que dizem nada, que colocam autor em pedestal, leitor na sarjeta; afasta. Não se fala a mesma língua, não há identificação com o mundo real, com o humano, com o mortal, são reles estórias, às vezes, bem escritas tecnicamente. Nada daquilo acontece, é ficção. “Por que ninguém dizia nada?”, Bukowski perguntou após as tantas tentativas de leituras buscando algum autor que gritasse algo que ele conseguisse escutar. John Fante gritou alto ao coração dele, e agora grita ao meu, Pergunte ao Pó, John Fante, tanto faz, obra ou autor, os dois uma só coisa, “um homem que não tem medo da emoção”, faço minha as palavras de Bukowski.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Leitura Divertida


Cansei de ler livros pela metade. Não vejo problema algum. A leitura tem que ser prazerosa, como assistir a um filme. É claro que, quem quiser se aprofundar mais na literatura ou no cinema terá que apelar para os clássicos, aí já não é mais entretenimento e sim uma busca de conhecimento. Desde criança aluguei filmes. No começo eram desenhos, filmes de super-herói, essas coisas. Depois, por influência, principalmente da minha mãe, comecei a ver filmes legendados, algumas porcarias que escolhia. Hoje, de vez em quando, consigo locar algo que me acrescente, às vezes até me forço a ver longas desagradáveis com o intuito de adquirir conhecimento, outras vezes paro de ver pela metade mesmo, sem remorsos.

Quando criança, minha mãe lia livros para mim, muitas vezes a mesma história se repetia todas as noites até eu enjoar. Na escola os professores recomendavam literatura infantil, depois infanto-juvenil, até chegar o segundo grau. Todo o pensamento é voltado para o vestibular, e os que deviam ser os nossos incentivadores de leitura recomendam livros chatos para moleques de quinze anos, e ainda querem que os leiam. Uns tantos adolescente lêem porque têm medo de irem mal nas provas ou já são condicionados, desde bebês, a serem competitivos, e nessa fase já estão preocupados com o mercado de trabalho, conseqüentemente com o primeiro teste para ver quem são os mais aptos a ganhar dinheiro e fazer uma carreira de sucesso (não pelo meu ponto de vista): o vestibular.

O hábito da leitura torna-se uma obrigatoriedade chata, onde, na maioria das vezes, quem lê as obras propostas tem desprazer. Ninguém é obrigado a gostar de todos os clássicos, nem querer lê-los. Ler deveria ser como ver um filme, aos poucos o gosto vai se apurando por si só, e a curiosidade levará às obras de qualidade, não como uma coisa imposta, mas naturalmente, como faço quando vou à locadora. Hora tenho vontade de pegar um filme tolo, hora loco um de qualidade, que me acrescentará. Deveria ser assim também com os livros. Mas não é. Porque ler livros virou sinônimo de ser cult, e ninguém quer ser pego lendo Paulo Coelho, por que não ler Paulo Coelho (e isso que estou falando de um autor que abobino)? O importante é ler, é assistir filmes, se não for um momento de prazer, ainda mais para quem não precisa disso com finalidade de sustento, não se tornará hábito. Leio porque gosto, vejo filmes porque gosto, se não me dá prazer fecho e desligo, o livro ou o DVD-player, a não ser que esteja num momento de adquirir conhecimento, por vezes faço esforço e vou até o final, mas digo com a ênfase de um presunçoso ignorante: este livro (ou filme) é uma porcaria.

sábado, 12 de setembro de 2009

Sugestão de filmes, não estão em ordem de preferência


Máfia
1- O Poderoso Chefão
2- O Poderoso Chefão II
3- Os Bons Companheiros
4- O Gângster
5- Cassino

Kubrick
1- Laranja Mecânica
2- Nascido para matar
3- O Iluminado
4- De olhos bem fechados

Hitchcock
1- Psicose
2- Frenesi
3- A sombra de uma dúvida
4- Um corpo que cai
5- Festim Diabólico
6- Disque M para matar

Outros
1- O sonho de Cassandra
2- Contos proibidos do Marquês de Sade
3- Na natureza selvagem
4- Parente... É serpente
5- O Monstro
6- O bebê de Rosemary
7- A outra história americana
8- Um sonho de liberdade
9- Noivo neurótico, noiva nervosa
10- Má educação
11- Irreversível
12- Réquiem para um sonho
13- Transpoint
14- O silêncio dos inocentes
15- Ponto de mutação
16- Amadeus
17- O Senhor dos Anéis (I, II e III, considero um filme só)
18- A lista de Schindler
19- A Sociedade dos Poetas Mortos
20- Entrevista com Vampiro
21- Obrigado por fumar
22 - Polp Fiction
23 - Watchmen
24 - Pátria Proibida
25 - Ilha das Flores (link 1 link 2)
26 - O Dia em que Dorival Encarou a Guarda (link 1 link 2)

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Acreditar é preciso, mudar não é preciso


Há muito tempo venho fazendo críticas às religiões, crenças e igrejas, e, muitas vezes, aos religiosos ou aos que possuem algum tipo de crendice. Se é justo, não sei. Acho mais justo criticar as próprias instituições que se valem da ignorância ou ingenuidade alheia para enriquecer ilicitamente. Os que se entregam a essas instituições e enriquecem os manipuladores de massa, por qualquer motivo irracional, acham que estão fazendo o bem. Se por um lado há o conformismo inerente à alienação, por outro existe a crença num mundo melhor, que será alcançado através da fé e da transformação das pessoas. Crêem, além de todos os dogmas, na mudança do ser humano, conseqüentemente da sociedade por inteiro. Apesar de alienados, conseguem enxergar que há salvação num mundo de perdição.

Existem os comunistas, esquerdistas, socialistas, nazistas, fascista e outros itas por aí a fora. Todos acreditam, se não em Deus ou num ser supremo, em uma ideologia. Ideologia essa que tem o poder de mudar o mundo para melhor, pelo menos na visão de mundo melhor deles. Pode-se questionar os meios utilizados para realizar essa mudança, mas esse não é o mérito. A crendice, que foi tantas vezes criticada neste blog, é o ponto que queria chegar. Antes qualquer crença tola em mudança, por mais atroz que possa parecer – “defender” o nazismo e o fascismo hoje em dia é pedir para ser execrado -, do que a alienação conformista.

Direitistas, defensores do capitalismo, dos Estados Unidos, justificam atos inadmissíveis, dizendo que se qualquer país estivesse no lugar dele faria o mesmo. Ou afirmam que o ser humano é assim mesmo, que sendo “honestos” com o jogo do capitalismo já estariam fazendo suas partes. São descrentes, alienados, acreditam na grande imprensa e na cidadania exercida pelo voto, na grande ditadura disfarçada de democracia, imposta desde não sei quando pelos EUA. Pode até parecer teoria da conspiração, mas antes crer em conspirações malignas do que padecer do mal do século XXI: a descrença.


Mesmo a própria descrença não é descrença, e sim uma credibilidade no sistema, uma crença tão cega e irracional quanto às dos evangélicos ou comunistas. A diferença está na mudança. Crer que o mundo é assim e pronto é mais alienante do que conceber que a sociedade poderá ser transformada pela fé dogmática. A grande diferença: acreditar em mudança ou crer em estagnação.

sábado, 29 de agosto de 2009

Jesus é o Senhor

João Matheus, 26 anos, casado há seis anos, pai de dois filhos, fisioterapeuta. Não bebo, não fumo, não uso drogas, não jogo. Sou evangélico, frequento a igreja todas as quartas e domingos, religiosamente (com o perdão (e mais um trocadilho) do trocadilho), às 20h. Prazer.

Se existissem apenas Joãos Matheus... Que maravilha! Infelizmente o mundo não vive só de Joãos e Matheus, muito menos de Joãos Matheus; é duro, porém verdade. Um dia quem sabe, a sociedade será purificada e retificada, aos poucos os Josés tornar-se-ão Joãos Matheus, obedientes aos dez mandamentos, e enfim o Éden retornará, como num lindo e romântico filme que se chamaria “O retorno de Éden, a missão”.

Não haverá mais jogadores inveterados destruidores de lares, alcoólatras alucinados ao volante, fumantes poluindo o ar puro das cidades, drogados pedindo esmola e roubando para sustentar o vício, assassinos, ladrões, adúlteros... E a vida eterna estaria garantida a todos, que repousariam suas almas nos reinos dos céus, onde Jesus (alvo, olhos azuis e cabelos claros) é o Senhor.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Dois artigos de Luis Felipe Pondé


Publicados na Folha de São Paulo




Sonhos bobos... e tolos


Enquanto o mundo a nossa volta vai acontecendo, vamos nos adaptando. Tentando nos adaptar sem fugir das nossas raízes, mas é claro que esse mundo que acontece a nossa volta, por mais que lutemos, interferirá, mais cedo ou mais tarde, em nossas vidas. No início lutamos, enrijecemos, resistimos aos novos fatos. Boa parte desiste da luta nas primeiras oras, deixam-se levar pela preguiça e pelo medo de subverter a nova “onda”. Outros vão um pouco mais longe, mas também tombam. E há os que preferem morrer a perder a ternura.

Difícil achar quem prefira o atrito, a sombra da derrota, a possibilidade de ceder. Conformar-se e continuar vivendo impera no sentimento alheio. Arriscar a estabilidade não está mais na moda, e como a moda (costumes) dita o comportamento, o que há de essencial é a estabilidade econômica e a preocupação com o próprio umbigo. Equilíbrio econômico, tanto individual, quanto no âmbito de Estado: a moda agora é não ser oposição, é ser a oposição da oposição, o retorno do que já era, com intuito de continuar sendo o que sempre foi.

De repente seja apenas o fantasioso que impregnou no imaginário, mas o passado sempre parece mais romântico, mais tolo, mais... Repleto de sonhos bobos. Jovens petulantes e prepotentes superestimavam-se, tinham a ideia tola de que poderiam mudar o mundo que acontece a sua volta; acreditavam, talvez por intuição, que o mundo não estava de acordo com o que eles idealizavam, e de alguma forma, nem que fosse em discussões improdutivas, tentavam modificar qualquer coisa, mesmo que em vão.

Poder-se-ia dizer que os jovens de agora são mais inteligentes, mais realistas... Que têm os pés no chão. Poder-se-ia dizer que os velhos de hoje, os jovens de outrora, eram tolos e sonhadores e que ilusões não levam a lugar algum. Poder-se-ia dizer que Joe Gould foi um dos maiores tolos, que o livro “O segredo de Joe Gould”, de Joseph Mitchell, nem deveria ter sido escrito. Uma história de um mendigo (quem estiver lendo ou pretende ler o livro deveria parar de ler o post agora) que não acreditava na História contada nos livros de escolas, que estava escrevendo “A grande história oral da humanidade”, pois cria numa revolução da História, contada a partir dos relatos de pessoas “comuns”, e ao chegar nas últimas páginas o leitor depara-se com a mentira, descobre que Joe Gould estava escrevendo nada, que era um grande mentiroso. Poder-se-ia dizer que a história de um mendigo mentiroso não mereceria anos da dedicação de Joseph Mitchell e nem as árvores cortadas para a fabricação do livro. Poder-se-ia dizer que “O segredo de Joe Gould” fora escrito em vão. Poder-se-ia dizer... Mas não fora dito por alguma razão.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Sentimentos da razão


Tentar achar uma lógica para qualquer coisa é forçar a barra. É claro que sempre acabamos achando lógica para tudo ou quase tudo, e se não encontramos, damos um jeito, nem que seja o absurdo de atribuir um sentido só para satisfazermos a nossa própria inquietude de não conseguir viver em dúvidas e em um mundo onde nem o sentido e nem a lógica fazem, com o perdão da piada, sentido.

O sentimento simplesmente obstrui a razão, não estou nem dizendo que não se deva acreditar nesses sentidos acrobáticos que atribuímos ao longo da vida para melhor lidarmos com ela, somente que existe uma distinção que deve ser feita, do que se sente e do que se acredita, do que é e do que não é, da razão e do sentimento.
Uma coisa é não conseguir conceber certos fatos explícitos, e por sentimento ou intuição, deduzir que não é bem assim que as coisas funcionam. Outra coisa é não conceber, mas saber que não há lógica nem razão para chegar àquela conclusão, somente o afago de conseguir colocar sentido onde não tem.

É desconfortável saber que alguém que roube, mate e não é pego não receba nenhuma punição, então concluímos, sem estudos, que essa pessoa receberá sua punição invariavelmente, seja em vida, seja depois de morto. Também não é confortante reconhecer que alguém, por pura sorte (acaso) venha a desenvolver um câncer ou sofra um acidente grave e morra com pouca idade. Para aliviarmos a pressão de que nem sempre a vida é justa e é feita de acasos. Tudo bem pensar assim, só é preciso saber que é pura crença sentimental e não há fundo de racionalidade nisso.

Também não estou defendendo que para crer em algo necessita-se usar a lógica e nem que a vida deva ser regida por ela, muito menos que a razão é mais importante do que a emoção. Só há de se diferenciar as razões que levam às crenças e saber que de lógico não há nada e a vida é curta para se viver só de lógica e razão.

sábado, 8 de agosto de 2009

Esmero

Se um dia encontrares
E levares a todos os lugares,
Carregares contigo o peso,
Por considerares que deve ser levado a sério
Enganado estarás
É superestimo teu

Algo que te corroeu,
Te corrói e te destrói,
Sem ao menos perceberes que nada é tão sério
Que possa ser levado a sério

Como pode ser sério e passageiro
Porque tudo é passageiro,
Tudo passará
E quando menos esperares,
Resolvido estará

Desperdiçaste o que não volta
E o que não volta não é mais
Ainda bem que não o é
O que eras já não és

Resolvido estará
Como num passe de mágica
Nem que seja na morte que finda
No nascer do sol ou no cair duma lágrima.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Caras e Bocas

Ao entrar na sala, sem bater na porta, percebe que ali está sendo realizada uma reunião. Com a boca, a intrusa faz uma “cara” demonstrando o constrangimento de ter chegado à sala em hora imprópria. A expressão denominada de “cara” queria transmitir a seguinte mensagem: eu não sabia que vocês estavam em reunião, volto mais tarde.

Impressionante a capacidade de uma boca (digo, “cara”, ou melhor, expressão facial) tem de transmitir uma ideia, com sucesso e em frações de segundos, sem recorrer à língua (tanto o idioma, quanto o órgão localizado na cavidade bucal). É claro que uma “boca” (boca) só não faz verão, junto à expressão significante (significado e significativo) é necessário ressaltar a importância (de igual ou maior tamanho) do contexto a qual está inserida. Como o órgão beijoqueiro, ao expressar-se, necessita da contextualização do olhar, franzir da testa, contrair das sobrancelhas, a “cara” também depende de uma história por trás para que lhe atribuam o significado.

Falando em contexto, não se pode deixar de mencionar o repertório do emissor e do receptor da mensagem. O emissor - no caso a intrusa - pressupõe a capacidade do receptor - no caso os indivíduos em reunião - de inferir o significado, idealizado por ela, à sua “boca”. Devido a tantos fatores subjuntivos, a intrusa - desfazendo a “cara” que fizera ao entrar na sala e deparar-se com a reunião - retirou-se do recinto sem saber ao certo se fora compreendida. Do lado de dentro da sala, a reunião continuou, indiferente. Com muitas caras e bocas.

quinta-feira, 26 de março de 2009

A Dádiva da Dúvida

Eis que surge, do nada, uma ideia. Brilhante, opaca? Ideia. Em tempos de escassez, qualquer linha de pensamento é válida, ou, quem sabe, seria de mais valia o vácuo mental. Talvez a ausência de raciocínio seja sim, uma ideia, cuja interpretação acarretará uma dúvida paranóica: será esse silêncio a própria ideia? Ou será a falta dela? Também surgirá a incógnita: melhor um dito tolo, ou um silêncio calado? Mesmo que, o calar-se, por pura ausência de pensamento, um nada não dito, já não o é, o nada fora dito, mesmo que, sem dolo de haver significado, ele o tem.


Assim como o silêncio insignificante, palavras proferidas, muitas vezes, sem significado, têm o mesmo efeito. Fica o dito e redito por não dito. Tão difícil quanto mensurar o calar expressivo, mesmo que por pouco tempo, é interpretar palavras soltas que nada dizem, ou dizem o nada. Por vezes, é confusa até uma frase concisa, até porque, o caminho traçado a partir da ideia de transmitir um pensamento, nem sempre, ou geralmente, tem o objetivo simplório de dizer somente o proferido. De quando em quando, se não na maioria, o contrário da ideia é o propósito a ser disseminado.


Sendo brilhante ou opaca, simplória ou elaborada, estará sempre a cargo do receptor dar-lhe o sentido. Mesmo nos casos em que o transmissor for o receptor. Tais mecanismos, tanto o de criar ideias, como o de interpretá-las, permite mentirmo-nos. Eis que surge o que dá esperança: a dúvida.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Enquanto isso no meio da rua...

Nas sinaleiras, já vi malabarista, palhaço, palhaço-malabarista. No centro da cidade, mais especificamente na Filipe Schimidt, os homens-estátuas dividem a cena com índios tocando violão, entre outros cantores ou instrumentistas. Até aí tudo bem, já estava acostumado com isso. Hoje, vejo um homem-estátua localizado perto de um sinaleiro, sobre a faixa amarela que divide as mãos da rua, fazendo uma pose em que, as pontas dos dedos das mãos tocam as pontas dos dedos dos pés, com a bunda virada para cima. Agora, além do calçadão do centro da cidade e das sinaleiras, há artistas de ruas também no meio da rua. Ah sim, fiquei pensando que, em vez de ser um homem posando daquele jeito, de bunda pro ar, poderia ser uma mulher-estátua, seria mais agradável.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Ganhar na Mega Sena é para os fracos


Quando um fato de grande improbabilidade acontece, tende-se a procurar explicações esdrúxulas. Se uma pessoa cai do alto de um prédio e não morre, quase que automaticamente, pensa-se algo do tipo: não era a hora dela morrer. Em vez lembrar que, de tantas pessoas que caem, um número pequeno irá sobreviver, porém, a grande maioria irá falecer. Mesmo se a probabilidade for irrisória, como por exemplo ganhar na Mega Sena, existem tantos jogadores, que um tem que ganhar. Igualmente quando ocorre algo pouquíssimo provável, como alguém sobreviver ao cair do alto de um edifício, isso só acontece pelo fato de tantos outros terem morrido, mas é claro, que ninguém lembra do infeliz que espatifou-se no chão, afinal, era lógico que morreria.

sexta-feira, 13 de março de 2009

Um outro lugar

Levanto, sento. Levanto, espreguiço-me, sento. Levanto-me, dou alguns passos, sento, caio no chão. A poltrona não estava lá. É claro. Esqueci dos passos dados. Paro por segundos, ergo-me, vou até a poltrona, sento-me. Sinto-me confortável agora, bem melhor que o chão.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Pequeno Detalhe

Enclausurado na própria clausura. Aprisionado em seu apartamento. As janelas e cortinas não são abertas há algum tempo. O cheiro de mofo com cigarro predomina no ambiente. Há dias a televisão velha está ligada no mesmo canal. Pouco se levanta da poltrona em frente à televisão. Veste uma cueca velha e nada mais. Já não toma mais banho, nem faz a barba ou escova os dentes. No chão um emaranhado de guimbas de cigarro, comidas em estado de putrefação, garrafas, sacos-plásticos. Nem ele mesmo aguenta mais essa situação. Precisa tomar uma atitude. Já sabe o que fazer. Está esperando a coragem bater à sua porta. Não enxerga mais um motivo sequer para levantar-se dali. Tudo que havia feito em vida não existe mais, e tudo que poderia vir a fazer deixará de existir. Só lhe resta uma alternativa, a mais lógica, a única plausível. “Se algum dia hei de morrer, não postergarei o destino”.


Não se sabe quando, um dia decidiu acreditar na morte. Desde então enclausurou-se em seu apartamento e em seus pensamentos. Tentou de alguma maneira, apesar de cético, negociar a vida eterna com Deus, Alá, Buda, nenhum deles lhe respondeu. A partir daí, já sabia o que teria que ser feito. Acordou um dia com coragem, decidiu por em prática o simples plano: subir até o terraço de seu edifício – que tem onze andares – e se jogar de lá de cima. Acordou, levantou-se da poltrona, desligou a televisão, tomou um banho, fez a barba, escovou os dentes, penteou o cabelo, colocou uma cueca nova, um belo terno e sapatos novos. Acendeu um cigarro, se olhou no espelho, acocorou-se para amarrar os sapatos, estava pronto, impecável, quase com vontade de voltar à vida que tinha antes de ter essa epifania com a morte. Apagou o cigarro em frente ao espelho, vislumbrou-se mais uma vez e foi em direção à porta de saída do apartamento. Entrou no elevador e subiu até o 11º andar. Chegou ao terraço. Foi até a beirada do prédio, subiu no parapeito, mais um passo e estaria feito. Lembrou-se de uns momentos de alegria: namoradas, amigos, família. Não poderia concluir o plano, afinal tinha muito o que viver, chegou a conclusão que a vida era linda. Todo esse sofrimento não tinha sido em vão, agora tinha vontade de viver, de ouvir os cantos dos pássaros, de sentir o soprar do vento. Seu plano agora era viver, sem preocupações, sem buscar lógica na vida. Ela era simplesmente bela. Queria chegar em seu apartamento, fazer uma boa limpeza, ligar para os amigos, dizer-lhes que tinha readquirido a vontade viver. No momento em que descia do parapeito, pisou no cadarço que se desamarrara, e caiu.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Não foi uma decisão simples?

Que atrocidade: fazer um aborto em uma menina de nove anos, que foi estuprada pelo padrasto. A criança estava grávida de gêmeos e corria risco de vida.


“Mas, para a equipe médica, não foi uma decisão simples. A realização do aborto passou a contar com oposição declarada do arcebispo de Olinda e Recife, dom José Cardoso Sobrinho, um integrante da ala conservadora da Igreja. “A lei de Deus está acima de qualquer lei humana. Então, quando uma lei humana, quer dizer, uma lei promulgada pelos legisladores humanos, é contrária à lei de Deus, essa lei humana não tem nenhum valor”, acredita.”

Não entendo como pôde ter sido uma decisão difícil. Só porque a Igreja Católica é contra, ou pelo fato do arcebispo, que veio direto do túnel do tempo, declarar ser contra o aborto. Nesse caso, a opinião da Igreja tem tanta valia quanto à opinião do palhaço Bozo. Até quando a ciência se preocupará com a religião? Fizeram o aborto, tudo bem. Só não aceito o fato de os médicos declararem ser uma decisão difícil, abortar ou não, porque a Igreja ou alguém de dentro dela é contra. Essa declaração me aborrece. Vamos colocar em uma balança: de um lado, uma criança de nove anos, grávida de gêmeos em decorrência de um estupro, correndo risco de vida; do outro, um maluco, que segue uma doutrina lunática, crê em um livro escrito por não sei quem, não sei quando... Ahn? Ahn? Decisão difícil?

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Genérico e simples

Gosto de coisas genéricas e simplistas. Uma frase genérica que, simplesmente, explica o comportamento humano: “não quero ser sócio de nenhum clube que aceita pessoas como eu de sócio”. Pronto. Está feita a teoria com um simples parafraseado. Outra coisa que gosto de fazer é explicar tudo pela teoria da evolução, parece que tudo fica claro. Por que as pessoas são gordas? Só recorrer à teoria da evolução. Tudo resolvido. Na pré-história era difícil se alimentar, os Homens passavam dias sem comer, então os que tinham maior capacidade de acumular gordura (energia) sobreviviam por um período maior de tempo, portanto, os que tinham essa qualidade geravam mais descendentes. Poderia listar inúmeras questões e resolveria todas pela teoria de Darwin.
Voltando ao parafraseado. Não existe melhor frase para explicar a ambição do Homem, a insatisfação. É bem verdade que um ser que cria a designação querer nunca quererá ser sócio de um clube que o aceite. Heureca! Genérica, simplista, frase perfeita, teoria perfeita. Voltando à teoria evolucionista e fazendo uma ponte com a religião. Prefiro pensar que sou fruto de uma evolução natural, conforto-me, simples e genericamente. Vou confessar que roubei a idéia dessa última frase de um zoólogo, que declarou algo parecido em uma entrevista. Continuarei na linha do raciocínio dele. Tem gente que não consegue se confortar com essa idéia e recorre ao sobrenatural para explicar a vida, assim sente-se confortável. Não questionarei o que cada pessoa faz para se sentir melhor, mais feliz, enfim. Só que existem coisas que me deixam pasmo. Ou até indignado. A discussão sobre o que será lecionado nas escolas públicas nas aulas de ciências: criacionismo ou evolucionismo. Só o fato de essa discussão existir já me dá uma ânsia. Claro que tem aquela frase famosa: Não concordo com uma só palavra que dizes, mas defenderei até a morte o direito de dizê-las. Não consigo conceber nem o fato de existirem pessoas que discutam isso no âmbito científico. Abismado é o adjetivo mais próximo que consigo designar para o meu sentimento quanto aos criacionistas quando defendem a idade da Terra. Dá-me nos nervos que essa discussão ainda exista. Deus criar tudo e ponto final é genérico e simplista demais.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Estratégia de Mercado - Terrorismo Psicológico

Você vai ao Mc Donald’s comprar um lanche. O preço de uma promoção (aquela que vem com batata e refrigerante junto) nunca é exato, é algo do tipo dez reais e oitenta e cinco centavos. Ao lado do caixa tem uma caixa de plástico transparente com algumas moedas dentro. Após pagar pelo seu lanche, o caixa pergunta se você quer doar o seu troco em moedas para as crianças com câncer. Você responde que sim. Imagina responder que não, além do olhar acusador do funcionário na sua direção, as outras pessoas que estão na fila o olharão com ar de reprovação. Afinal, você não seria tão muquirana, não negaria 15, 20, 50 centavos de seu dinheiro para ajudar as criancinhas doentes. Não você, que esbanja dez reais para gastar em um lanche. E não são crianças com uma doença qualquer, estão com câncer. Saca o terrorismo? Criança com câncer, “praticamente” obrigam você a doar o dinheiro.
O Mc Donald’s usa de terrorismo psicológico para a autopromoção e lucro. Usa o seu dinheiro para “ajudar” as crianças, abate a doação do imposto de renda e ainda fica com fama de bonzinho.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Caixa de Pandora

Ouvi uma história sobre um episódio de um seriado que seria mais ou menos assim:

Um dia qualquer chega uma pessoa qualquer a sua casa. Essa pessoa toca a campanhinha, você abre a porta. “Olá, tudo bem? Em que posso servi-lo?”. O estranho que bate a sua porta carrega uma caixa de madeira com um pequeno detalhe: um botão vermelho na parte superior. Responde: “olá, tenho aqui uma caixa que possui um botão vermelho, se apertá-lo resolverá todos os seus problemas”.
Você fica se perguntando como que o simples apertar de um botão resolveria todos os seus problemas, e mais, quais seriam todos os seus problemas, e como um estranho saberia deles. “Se você apertar o botão automaticamente um milhão de reais será depositado em sua conta”, diz a pessoa, o estranho, a sua porta. E você, mais uma vez, confuso, se pergunta: “como poderia ele saber que estou passando por problemas financeiros”. Era bem verdade, você, com um milhão resolveria muitos, se não todos, os problemas. Quitaria sua casa, compraria um carro novo, pagaria a faculdade de seu filho. Você não teria motivos para não apertá-lo, não apertar o botão.
“Fique com a caixa”, diz o estranho, “quando quiser pode acioná-la. E quando apertar o botão uma pessoa que você não conhece e nunca irias conhecer morrerá”. Não fará nenhuma diferença em sua vida, já que, se for verdade, a pessoa que falecerá não teria interferência nenhuma em sua vida, basta apertar um botão e um milhão de reais será seu.
Você fica com a caixa, sua consciência fica em dúvida: “será que lidarei bem sabendo que uma pessoa será prejudicada por minha causa?”. Os problemas financeiros apertam, você será despejado de seu imóvel se não pagar a próxima parcela da hipoteca, você resolve apertar o botão. Que maravilha! Está tudo resolvido, sua vida está maravilhosa, casa quitada, faculdade do filho garantida, carro novo...
Eis que toca a sua campanhinha mais uma vez. A sua porta, o mesmo estranho, a mesma pessoa dizendo: “quero a caixa de volta”. Você, confuso, pergunta o porquê. O estranho responde: “darei essa caixa para uma pessoa que você não conhece e nunca viria ou virá a conhecer”.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Tudo virou hipótese

-Perplexo seria a palavra mais apropriada, imagino. Vamos discutir sobre o armário, ou melhor, um armário qualquer, feito de madeira. Madeira, todos sabemos de onde veio: árvore; a árvore é derrubada, cortada... Vira uma tábua. Agora pode ser trabalhada pelos marceneiros e virar um armário. Essa é a história do meu armário, onde guardo minhas roupas.
-Até aí tudo bem.
-Até aqui tudo bem?
-É só uma hipótese. Como o evolucionismo, criacionismo...
-Evolucionismo não é hipótese, é fato. A história sobre a origem do meu armário também é fato. Aprendi na escola.
-Criacionismo também aprendi na escola. Teu argumento não é válido.
-Não estou falando de aulas de Religião. Estou falando das aulas de Ciências.
-Então, aprendi criacionismo nas aulas de Ciências.
-Mas tu sabes do que eu estou falando...
-Sei não.
-Assim não dá para discutir, tu és muito cético.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

O Menino e O Monstro

O menino deita na cama, sua mãe fecha o livro de histórias, beija a sua testa e deseja-lhe boa noite. A história que a mãe acabara de ler para seu filho era sobre um monstro que vivia debaixo da cama e comia criancinhas. Não sei se esse tipo de livro é o mais recomendado para ler a uma criança antes de uma noite de sono.
Em sua cabeça, o menino matutava cada detalhe estapafúrdio da história. Ele só tinha oito anos, mas percebera que a história fora mal contada. Não questionara a mãe no momento em que narrava o conto “O menino e o monstro”, até porque seria uma total falta de respeito, não só com a própria mãe, mas com seus antepassados, afinal, esse livro era lido e repassado há gerações, e era levado muito a sério por toda a família.
O menino não sabia se todos realmente acreditavam naquele conto, ou só fingiam acreditar para não faltar com o respeito com os mais velhos. Mas ele, mesmo que quisesse, não conseguia crer na possibilidade daquela história ser real. “Como pode existir um monstro? Como ele existindo, poderia viver debaixo da cama e nunca ser visto? E ainda, como ele sabia quais crianças eram boas e quais eram más, para saber qual ele iria comer? E ainda se soubesse, o mesmo bem e mal para o monstro era o dos seres humanos? Que história mais sem pé nem cabeça. Mas até que é boa para pegar no sono”

sábado, 24 de janeiro de 2009

Objeto Não Identificado: presente-potente-ciente

Deus apareceu pra mim hoje (acreditem se quiser). Para o meu maior espanto Ele era: calvo, barba branca, olhos azuis, aparência de um senhor de 70 anos, vestido com um manto branco. De uma imensidão, do tamanho de um prédio de onze andares. Olha, essa altura do campeonato, eu tinha tomado apenas umas quatro ou cinco latas de cerveja, nada comprometedor, nada que pudesse tirar a credibilidade sobre a minha própria consciência, a não ser pelo fato de eu ter visto Deus. “Fiquei louco”, pensei. Mesmo assim resolvi escutá-lo, afinal não é todo dia que aparece um gigante, calvo, de barbas brancas, mesmo se for alucinação, valeu a pena tê-la. Sendo Ele ou não, é impressionante como o poder do cérebro é capaz de fazer uma coisa tão real, mesmo não sendo. Agora, abrindo um parênteses, o que acho engraçado, é que ninguém vai acreditar, quando falar que Deus apareceu pra mim, mas acreditam nele, mesmo assim acham inviável que eu possa tê-Lo visto, e vão dizer que eu estou ficando louco, eu que não acredito mesmo nessas coisas de Deus eticétaras e tals, posso até achar que estou maluco, agora, porque que Deus, que tanto existe não pode aparecer, até agora não sei direito se o que vi era real, mas era tão palpável, que resolvi começar a acreditar; foi então que Ele disse, antes mesmo que eu pudesse abrir a boca:

-Não necessitais expressar oralmente, pois sou Deus, onipotente-presente, que vos fala.

Acredito que ele não estava falando só comigo, ou será que Ele só sabe falar na segunda pessoa do plural? Continuou...

-O sentido da vida é:
Primeiro: aqueles que devotam sua vida a mim, agradeço e obrigado.
Segundo: aqueles que simplesmente acreditam, ou por simplesmente acreditarem ou por medo, também agradeço.
Terceiro: aqueles que só curtem a vida, mas têm os valores talhados pela sociedade, e mesmo não tendo crenças, agem de forma que acham certo, obrigado.
Quarto: aqueles que curtem a vida e não se importam com ninguém, e passam por cima dos próprios valores, ou dos valores talhados pela sociedade, obrigado.

Eu, sem entender nada, nem tempo de pensar, Ele prosseguiu...

-Porra bicho, sou onisciente, sei passado, presente, futuro. No momento da criação já sabia tudo o que aconteceu, não tudo o que aconteceria, sabia todo o acontecido, desde o momento em que decidi criar tudo, aliás, não decidi de uma hora pra outra, já sabia que o mundo estava criado a partir de tal ponto do tempo.
-Sim, sim. Sou sádico e não tenho mais o que fazer.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Imprevistos sem causalidades

Hoje acordei, tomei café, me machuquei, comprei jornal... Era só o que faltava aqui, um post assim. Ah, antes que eu esqueça, a parte em negrito é o início da música Querido Diário - João Bosco. Não iria começar um texto assim, creio eu.
Se fosse começar desse jeito, começaria: Um cara distinto, autêntico, acorda, como de praxe toma um café, café preto com pouco açúcar (o necessário para quebrar o amargo, mas sem mascarar o gosto do café). Estabanado, atrasado, fazendo inúmeras coisas ao mesmo tempo, bate com o joelho na quina da cadeira, xinga o nada, e continua o que iria fazer depois do processo de acordar: comprar um jornal na banca à frente de sua casa.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Post Sem Cigarro

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quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

O que há devir

Pensei saber o que viria
Tentei antecipar o será
Pena que se tornara seria
Queria eu, tanto que fosse

Não é
Queria viver no seria
Quero o que era pra ser
Só tenho o que é

O ser
O que é
Não quero
Tenho

Prevejo o será
Manipulo o é
Para transformá-lo
Em seria

Só satisfeito
Quando o seria for é
E o é
Se tornar seria

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

...

Que lugar é este? Há anos estive aqui. Avalanchou-me as recordações existentes, de tanta luta, haviam sido empurradas para o fundo, e pensei ter conseguido, enganando-me, fazer com que elas desaparecessem, como se algo pudesse desaparecer. Sucumbi, foi tudo em vão, só adormeci-las por um período de tempo, talvez breve, talvez longo.
Tentarei empurrá-las para trás novamente, com a esperança de esquecê-las, como se fosse possível esquecer qualquer coisa, qualquer coisa até é, mas não uma memória tão importante e marcante desse tipo. Então ganharei uma breve batalha, até sucumbir novamente, e empurrá-las mais uma vez, para outra vez sucumbir. Assim espero, não quero, porém, espero.