domingo, 27 de setembro de 2009

Por que gastei 34 reais em livros?









Esses dias senti vontade de roubar três livros. O jogador, Dostoiévski, Carta ao pai, Kafka e Assassinatos na Rua Morgue, Poe. Não por falta de dinheiro, eram edições de bolso, paguei 34 reais neles, mas pela fila enorme e o pouco número de atendentes em comparação a quantidade de clientes que se encontravam na livraria. Na fila, li algumas páginas de Carta ao pai, tem 109 páginas, pensei em finalizá-lo em um canto calmo, esperar a fila diminuir e só pagar pelas outras duas obras, só pensei. Me policiei, continuei na fila, afinal não sou melhor que ninguém, esses tipos de pensamentos comuns assim, utilizados para o auto-convencimento, e paguei pelos três. Percebi que estas cento e nove páginas, logo logo, seriam vencidas por mim, sem esforço, é uma leitura que flui, flui mais rapidamente do que deveria, devota-se menos tempo a ela do que mereceria, poderia matá-la ali, economizar e não trazê-la pra casa, não o fiz, paguei pelos três. Talvez por sentimento de apreciação de olhar para a capa roxa e deparar com o escrito em branco e em caixa alta KAFKA e logo abaixo, com letras um pouco mais finas, CARTA AO PAI, o retrato preto e branco estampado, é significante tê-lo em minha estante, é encantador olhar para a capa. Enfim, é bom tê-lo para podê-lo apreciá-lo quando bem entender, para lê-lo com calma.

Paguei pelos três, mesmo sem nunca ter lido nenhuma outra obra de nenhum destes autores, só uns contos e poesias de Poe, paguei-los por certos motivos: a grife intrínseca; o texto avassalador das primeiras páginas; e o primordial: eram de bolso, baratos e fáceis de manusear. Ah, tem um motivo bem claro para eu ter comprado O jogador, eu adoro pôquer, adoro jogos de cartas, não pude resistir a um livro que trata de jogos com a grife do Dostoiévski. Assassinatos na Rua Morgue fui influenciado a levá-lo para casa, além dos motivos já citados, porque queria conhecer a morbidez de Poe, veja que já falo aqui como se fosse um conhecedor. Não sei se, por causa da grife intrínseca, as capas parecem altamente persuasivas e enigmáticas, confesso que as capas, de um modo menor, junto aos outros requisitos, me levaram a pagar pelos três. Queria tê-los, e os tenho, ainda não por inteiro, ainda não os li, mas os tenho, são meus. Sou um cara que leu, lê ou lerá, Poe, Kafka e Dostoiévski. Sou um cara culto.

sábado, 26 de setembro de 2009

Metamorfose Escatológica


Imaginem, vocês, o raciocínio lerdo, atormentado por uma fagulha que insiste em não parar de cutucar o fundo raso da cabeça deste humilde que vos fala. Imaginem a ânsia, a angústia de materializar e exteriorizar, nem que seja o pior dos excrementos, nem que sejam as vísceras. Falar das vísceras é um troço complicado, tem grande chance de ficar um tanto, digamos, lugar comum, talvez piegas, ou até uma exibição disfarçada de autocrítica. Tática mais velha que subir pra cima (essa frase também está desgastada). Enfim, a artimanha de escrever sobre vísceras, e ainda antecipar o leitor expondo as mazelas do próprio texto, é mesquinha. Claro que pode sair um bom texto, sobre qualquer assunto pode-se escrever textos bons; não aqui, não hoje, é claro. Esse negócio de tentar ser humilde tá ficando chato. Essa coisa de ser arrogante também. Pior ainda é essa mania de tentar achar um meio termo para tudo. Tudo agora é a porra do bom senso. “Nem de mais nem de menos”. “Tudo que é demais faz mal, até água”. “Nem tanto ao céu, nem tanto ao mar”. Chavões ensebados no dia-a-dia. Poderia dizer que entram por um ouvido e saem pelo outro. Não, não poderia. Aquele sebo fica entranhado nos tímpanos, entrou e saiu, mas a gosma melequenta perpetua. Não se dá tempo para secar.

É tão visceral que, ao falar de entranhas, este, nem humilde, nem sabido, nem meia-boca (ou tudo isso junto), que vos fala, é obrigado a dividir estes ditos populares de merda que atormentam seus pobres ouvidos. Está tão entranhado que, ao falar de vísceras, este obriga-se a compartilhar a baba que lhe escorre pelos ouvidos todos os dias, aquela gosma grudenta que insiste, em vão, em limpar. Às vezes é bom olhar para dentro e deixar o bolo fecal sair. Vomitar, cagar, arrotar, escarrar, mijar, peidar. Depositar tudo num papel branco e depois jogar fora. Esgoto abaixo, mar abaixo, rua abaixo... Expor as entranhas, vísceras e bolo fecal a todos numa folha, que outrora, fora um belo pedaço de papel branco.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Diálogo

- Acha que se devia glorificar a bebida?
- Não mais do que qualquer outra coisa...
- Beber não é uma doença?
- Respirar é uma doença.
- Não acha os bêbados condenáveis?
- Acho, a maioria. E também a maioria dos abstêmios.
- Mas quem se interessa pela vida de um bêbado?
- Outro bêbado.
- Acha beber muito um hábito socialmente aceitável?
- Em Beverly Hills, sim. Na sarjeta, não.


Trecho do romance Hollywood, de Chales Bukowski

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

A Emoção de Zé e Ulisses



Contradição, a marca de uma obra. O autor expõe suas mazelas, assina o atestado de mortal. Nivela-se. Não por baixo, nem por cima; nivela-se. Escreve, expõe suas mazelas; contradiz-se. Esta é a marca do mortal, do humano; aproxima-se. A sinceridade aglutina autor-obra e leitor. A exposição toca e é facilmente identificável pelo leitor, que se vê dentro da obra, dentro do escritor, são amigos, mais que isso, padecem dos mesmos sentimentos, são gente, são comuns, são mortais.
Os mesmos rancores e aflições, as mesmas euforias e medos, alegrias e desilusões, inerentes a ambos. Tão iguais e, ao mesmo tempo, tão singulares. São humanos, são mortais. Ninguém é herói nem vilão, extraordinário ou comum, os dois são extraordinários e comuns, heróis e vilões. De perto ninguém é herói nem comum, todos são Ulisses e Zés, foi alguma coisa assim que Eliane Brum disse, concordo.
Concordo também quando Charles Bukowski fala do medo da emoção, de obras que dizem nada, que colocam autor em pedestal, leitor na sarjeta; afasta. Não se fala a mesma língua, não há identificação com o mundo real, com o humano, com o mortal, são reles estórias, às vezes, bem escritas tecnicamente. Nada daquilo acontece, é ficção. “Por que ninguém dizia nada?”, Bukowski perguntou após as tantas tentativas de leituras buscando algum autor que gritasse algo que ele conseguisse escutar. John Fante gritou alto ao coração dele, e agora grita ao meu, Pergunte ao Pó, John Fante, tanto faz, obra ou autor, os dois uma só coisa, “um homem que não tem medo da emoção”, faço minha as palavras de Bukowski.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Leitura Divertida


Cansei de ler livros pela metade. Não vejo problema algum. A leitura tem que ser prazerosa, como assistir a um filme. É claro que, quem quiser se aprofundar mais na literatura ou no cinema terá que apelar para os clássicos, aí já não é mais entretenimento e sim uma busca de conhecimento. Desde criança aluguei filmes. No começo eram desenhos, filmes de super-herói, essas coisas. Depois, por influência, principalmente da minha mãe, comecei a ver filmes legendados, algumas porcarias que escolhia. Hoje, de vez em quando, consigo locar algo que me acrescente, às vezes até me forço a ver longas desagradáveis com o intuito de adquirir conhecimento, outras vezes paro de ver pela metade mesmo, sem remorsos.

Quando criança, minha mãe lia livros para mim, muitas vezes a mesma história se repetia todas as noites até eu enjoar. Na escola os professores recomendavam literatura infantil, depois infanto-juvenil, até chegar o segundo grau. Todo o pensamento é voltado para o vestibular, e os que deviam ser os nossos incentivadores de leitura recomendam livros chatos para moleques de quinze anos, e ainda querem que os leiam. Uns tantos adolescente lêem porque têm medo de irem mal nas provas ou já são condicionados, desde bebês, a serem competitivos, e nessa fase já estão preocupados com o mercado de trabalho, conseqüentemente com o primeiro teste para ver quem são os mais aptos a ganhar dinheiro e fazer uma carreira de sucesso (não pelo meu ponto de vista): o vestibular.

O hábito da leitura torna-se uma obrigatoriedade chata, onde, na maioria das vezes, quem lê as obras propostas tem desprazer. Ninguém é obrigado a gostar de todos os clássicos, nem querer lê-los. Ler deveria ser como ver um filme, aos poucos o gosto vai se apurando por si só, e a curiosidade levará às obras de qualidade, não como uma coisa imposta, mas naturalmente, como faço quando vou à locadora. Hora tenho vontade de pegar um filme tolo, hora loco um de qualidade, que me acrescentará. Deveria ser assim também com os livros. Mas não é. Porque ler livros virou sinônimo de ser cult, e ninguém quer ser pego lendo Paulo Coelho, por que não ler Paulo Coelho (e isso que estou falando de um autor que abobino)? O importante é ler, é assistir filmes, se não for um momento de prazer, ainda mais para quem não precisa disso com finalidade de sustento, não se tornará hábito. Leio porque gosto, vejo filmes porque gosto, se não me dá prazer fecho e desligo, o livro ou o DVD-player, a não ser que esteja num momento de adquirir conhecimento, por vezes faço esforço e vou até o final, mas digo com a ênfase de um presunçoso ignorante: este livro (ou filme) é uma porcaria.

sábado, 12 de setembro de 2009

Sugestão de filmes, não estão em ordem de preferência


Máfia
1- O Poderoso Chefão
2- O Poderoso Chefão II
3- Os Bons Companheiros
4- O Gângster
5- Cassino

Kubrick
1- Laranja Mecânica
2- Nascido para matar
3- O Iluminado
4- De olhos bem fechados

Hitchcock
1- Psicose
2- Frenesi
3- A sombra de uma dúvida
4- Um corpo que cai
5- Festim Diabólico
6- Disque M para matar

Outros
1- O sonho de Cassandra
2- Contos proibidos do Marquês de Sade
3- Na natureza selvagem
4- Parente... É serpente
5- O Monstro
6- O bebê de Rosemary
7- A outra história americana
8- Um sonho de liberdade
9- Noivo neurótico, noiva nervosa
10- Má educação
11- Irreversível
12- Réquiem para um sonho
13- Transpoint
14- O silêncio dos inocentes
15- Ponto de mutação
16- Amadeus
17- O Senhor dos Anéis (I, II e III, considero um filme só)
18- A lista de Schindler
19- A Sociedade dos Poetas Mortos
20- Entrevista com Vampiro
21- Obrigado por fumar
22 - Polp Fiction
23 - Watchmen
24 - Pátria Proibida
25 - Ilha das Flores (link 1 link 2)
26 - O Dia em que Dorival Encarou a Guarda (link 1 link 2)

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Acreditar é preciso, mudar não é preciso


Há muito tempo venho fazendo críticas às religiões, crenças e igrejas, e, muitas vezes, aos religiosos ou aos que possuem algum tipo de crendice. Se é justo, não sei. Acho mais justo criticar as próprias instituições que se valem da ignorância ou ingenuidade alheia para enriquecer ilicitamente. Os que se entregam a essas instituições e enriquecem os manipuladores de massa, por qualquer motivo irracional, acham que estão fazendo o bem. Se por um lado há o conformismo inerente à alienação, por outro existe a crença num mundo melhor, que será alcançado através da fé e da transformação das pessoas. Crêem, além de todos os dogmas, na mudança do ser humano, conseqüentemente da sociedade por inteiro. Apesar de alienados, conseguem enxergar que há salvação num mundo de perdição.

Existem os comunistas, esquerdistas, socialistas, nazistas, fascista e outros itas por aí a fora. Todos acreditam, se não em Deus ou num ser supremo, em uma ideologia. Ideologia essa que tem o poder de mudar o mundo para melhor, pelo menos na visão de mundo melhor deles. Pode-se questionar os meios utilizados para realizar essa mudança, mas esse não é o mérito. A crendice, que foi tantas vezes criticada neste blog, é o ponto que queria chegar. Antes qualquer crença tola em mudança, por mais atroz que possa parecer – “defender” o nazismo e o fascismo hoje em dia é pedir para ser execrado -, do que a alienação conformista.

Direitistas, defensores do capitalismo, dos Estados Unidos, justificam atos inadmissíveis, dizendo que se qualquer país estivesse no lugar dele faria o mesmo. Ou afirmam que o ser humano é assim mesmo, que sendo “honestos” com o jogo do capitalismo já estariam fazendo suas partes. São descrentes, alienados, acreditam na grande imprensa e na cidadania exercida pelo voto, na grande ditadura disfarçada de democracia, imposta desde não sei quando pelos EUA. Pode até parecer teoria da conspiração, mas antes crer em conspirações malignas do que padecer do mal do século XXI: a descrença.


Mesmo a própria descrença não é descrença, e sim uma credibilidade no sistema, uma crença tão cega e irracional quanto às dos evangélicos ou comunistas. A diferença está na mudança. Crer que o mundo é assim e pronto é mais alienante do que conceber que a sociedade poderá ser transformada pela fé dogmática. A grande diferença: acreditar em mudança ou crer em estagnação.