sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Eu, robô?

Sempre que desço do meu apartamento para a área livre em volta do hall de entrada, com o pretexto de fumar um cigarro, e convido algum amigo para papear, os papos se repetem esporadicamente. Hoje a conversa retomada e ensebada foi: as crianças que não estão embaixo dos blocos (moro em um condomínio de cinco blocos) brincando. E os papos envoltos, do que podemos chamar de o principal tema, seriam: nostalgia, capitalismo, consumismo, pessoas-máquina etc.

Falo mal dessa geração computadorizada em ambos os sentidos: nascem pensando que nada fora do Google é real e são robotizadas desde o nascimento. O que antes era o papel da televisão, agora é do computador. Só que a TV não é tão autoritária quanto um computador e não exige tantas horas de dedicação.

Polícia e ladrão, esconde-esconde, pique-bandeira, detetive, stop, forca, nada disso mais presta. “Corrida de tampinhas, cavávamos na areia do parquinho para fazer as pistas, as regras: quem sair do percurso volta para o início, ganha quem chegar ao final da corrida com o menor número de petelecos”, recordo-me.

O que vejo hoje são crianças barrigudas, ensebadas de Mc Donalds em volta de suas bocas. Subir em árvores para pegar uma fruta sem agrotóxico, contarei um dia que fiz isso, do mesmo jeito que me contam sobre a época que não havia televisão e eletricidade. Ah, já ia esquecendo, brincar de aventura, subir, trepar, pular, descer, escorregar de muros, pedras, árvores, qualquer lugar pouco confiável, também deixou de ser divertido.

Deixando a nostalgia de lado, essa geração de autômatos fica em casa, sob vigilância de seus computadores, os pais, os pais estão tranqüilos, seus filhos não quebrarão os braços nem as pernas e ainda estão se preparando muito bem para o futuro, o futuro é a internet, são os computadores, são as inúmeras línguas que esses adultinhos aprendem. E os pais? Os pais contam com maior orgulho, “meu filho só tira dez no boletim, vou levá-lo ao Mc Donalds como recompensa”. “Meu filho tem dez anos e fala inglês, espanhol e aramaico, entende tudo de computador”. “Meu filho está preparado para o mercado de trabalho, vai ser engenheiro não sei das quantas, ganhará não sei quanto”. “Meu filho, meu filho, meu filho"...

Não sei o que acontece com meu filho, me mato de trabalhar, dou tudo pra ele e ele nunca está satisfeito”. “Quantos não gostariam de ter essa vida, e meu filho só reclama”. “O que foi que fiz de errado?”. Uma geração de pais que culpam os próprios pais e se culpam. Uma geração de filhos domesticada pelos computadores. As mulheres estão trabalhando, os homens trabalhando mais ainda, os filhos estão atolados de tarefas, sendo produzidos em série, só falta o código de barra (será que falta?), quem os consumirá? O mercado, o mercado precisa dessas máquinas. Os jogos e programas de PCs já os instruem desde pequenos a serem produtos para o mercado, os pais caíram na balela das propagandas (televisão, filmes, novelas, “jornalismo”) por se sentirem culpados pelo tempo que não passam com suas crianças, lhes dão matéria, e virou um ciclo vicioso: cada vez mais culpados, cada vez mais matéria, para mais matérias, mais trabalho.

Enquanto isso, os grandes consumidores dessa geração estão bem, estão garantindo os produtos que eles querem. Só que esses robôs encomendados por eles, demoram para ser feitos, uns vinte anos pelo menos. Fico pensando quando começarão a colocar agrotóxicos e adubos artificiais nos bebês e crianças para que elas aprendam e cresçam mais rapidamente. Ou será que já está sendo feito isso?

Vicente Figueiredo

Um comentário:

Unknown disse...

Fantástico o seu texto...o q esperar dessas "crianças robôs" no futuro??
acredito q não haverá futuro pra elas, pois qm não tem coração, não vivi, apenas existe!
Bjosss