quinta-feira, 26 de março de 2009

A Dádiva da Dúvida

Eis que surge, do nada, uma ideia. Brilhante, opaca? Ideia. Em tempos de escassez, qualquer linha de pensamento é válida, ou, quem sabe, seria de mais valia o vácuo mental. Talvez a ausência de raciocínio seja sim, uma ideia, cuja interpretação acarretará uma dúvida paranóica: será esse silêncio a própria ideia? Ou será a falta dela? Também surgirá a incógnita: melhor um dito tolo, ou um silêncio calado? Mesmo que, o calar-se, por pura ausência de pensamento, um nada não dito, já não o é, o nada fora dito, mesmo que, sem dolo de haver significado, ele o tem.


Assim como o silêncio insignificante, palavras proferidas, muitas vezes, sem significado, têm o mesmo efeito. Fica o dito e redito por não dito. Tão difícil quanto mensurar o calar expressivo, mesmo que por pouco tempo, é interpretar palavras soltas que nada dizem, ou dizem o nada. Por vezes, é confusa até uma frase concisa, até porque, o caminho traçado a partir da ideia de transmitir um pensamento, nem sempre, ou geralmente, tem o objetivo simplório de dizer somente o proferido. De quando em quando, se não na maioria, o contrário da ideia é o propósito a ser disseminado.


Sendo brilhante ou opaca, simplória ou elaborada, estará sempre a cargo do receptor dar-lhe o sentido. Mesmo nos casos em que o transmissor for o receptor. Tais mecanismos, tanto o de criar ideias, como o de interpretá-las, permite mentirmo-nos. Eis que surge o que dá esperança: a dúvida.

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