quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Sentimentos da razão


Tentar achar uma lógica para qualquer coisa é forçar a barra. É claro que sempre acabamos achando lógica para tudo ou quase tudo, e se não encontramos, damos um jeito, nem que seja o absurdo de atribuir um sentido só para satisfazermos a nossa própria inquietude de não conseguir viver em dúvidas e em um mundo onde nem o sentido e nem a lógica fazem, com o perdão da piada, sentido.

O sentimento simplesmente obstrui a razão, não estou nem dizendo que não se deva acreditar nesses sentidos acrobáticos que atribuímos ao longo da vida para melhor lidarmos com ela, somente que existe uma distinção que deve ser feita, do que se sente e do que se acredita, do que é e do que não é, da razão e do sentimento.
Uma coisa é não conseguir conceber certos fatos explícitos, e por sentimento ou intuição, deduzir que não é bem assim que as coisas funcionam. Outra coisa é não conceber, mas saber que não há lógica nem razão para chegar àquela conclusão, somente o afago de conseguir colocar sentido onde não tem.

É desconfortável saber que alguém que roube, mate e não é pego não receba nenhuma punição, então concluímos, sem estudos, que essa pessoa receberá sua punição invariavelmente, seja em vida, seja depois de morto. Também não é confortante reconhecer que alguém, por pura sorte (acaso) venha a desenvolver um câncer ou sofra um acidente grave e morra com pouca idade. Para aliviarmos a pressão de que nem sempre a vida é justa e é feita de acasos. Tudo bem pensar assim, só é preciso saber que é pura crença sentimental e não há fundo de racionalidade nisso.

Também não estou defendendo que para crer em algo necessita-se usar a lógica e nem que a vida deva ser regida por ela, muito menos que a razão é mais importante do que a emoção. Só há de se diferenciar as razões que levam às crenças e saber que de lógico não há nada e a vida é curta para se viver só de lógica e razão.

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