quinta-feira, 17 de setembro de 2009

A Emoção de Zé e Ulisses



Contradição, a marca de uma obra. O autor expõe suas mazelas, assina o atestado de mortal. Nivela-se. Não por baixo, nem por cima; nivela-se. Escreve, expõe suas mazelas; contradiz-se. Esta é a marca do mortal, do humano; aproxima-se. A sinceridade aglutina autor-obra e leitor. A exposição toca e é facilmente identificável pelo leitor, que se vê dentro da obra, dentro do escritor, são amigos, mais que isso, padecem dos mesmos sentimentos, são gente, são comuns, são mortais.
Os mesmos rancores e aflições, as mesmas euforias e medos, alegrias e desilusões, inerentes a ambos. Tão iguais e, ao mesmo tempo, tão singulares. São humanos, são mortais. Ninguém é herói nem vilão, extraordinário ou comum, os dois são extraordinários e comuns, heróis e vilões. De perto ninguém é herói nem comum, todos são Ulisses e Zés, foi alguma coisa assim que Eliane Brum disse, concordo.
Concordo também quando Charles Bukowski fala do medo da emoção, de obras que dizem nada, que colocam autor em pedestal, leitor na sarjeta; afasta. Não se fala a mesma língua, não há identificação com o mundo real, com o humano, com o mortal, são reles estórias, às vezes, bem escritas tecnicamente. Nada daquilo acontece, é ficção. “Por que ninguém dizia nada?”, Bukowski perguntou após as tantas tentativas de leituras buscando algum autor que gritasse algo que ele conseguisse escutar. John Fante gritou alto ao coração dele, e agora grita ao meu, Pergunte ao Pó, John Fante, tanto faz, obra ou autor, os dois uma só coisa, “um homem que não tem medo da emoção”, faço minha as palavras de Bukowski.

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