sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Fragrância

   
    Invariavelmente, em qualquer situação, gostava de provocar. Utilizava todos a sua volta como cobaias. Era asqueroso: peidava em público com a maior naturalidade. E, ao contrário da maioria, não se sentia constrangido em momento algum. Era tão natural a atitude que tinha ao peidar que quem ficava constrangido eram os outros que inalavam seu perfume.

    Foi sempre assim. Já na escola, quando criança, peidava deliberadamente em sala de aula; seu apelido era Peidão, exceção à regra, pegara apesar do gosto do apelidado pelo apelido. Até a professora se constrangia, ninguém mais sentava ao seu lado, havia um vácuo de carteiras a sua volta. Começou com um simples peidinho silencioso que deixara escapar um pequeno ruído condenatório, depois até forçava para deixá-lo barulhento, chegou a um ponto em que fazia posições, levantava uma das pernas e soltava a bufa. Era tão gostoso, o poder de constranger, pois pouco importava o que falavam dele pelas costas, afinal de contas, o que tinha importância eram as expressões de nojo e constrangimento que tirava dos rostos alheios.

    Agora, já velho, gosta de sair por aí e peidar, ver os rostos de espanto e de compaixão, pois pensam que o pobre velhinho não consegue nem mais segurar as pregas. Era só uma nova tática que a idade lhe propiciava.

Um comentário:

Anônimo disse...

Adquiriu anos de experiência e refinou o modo de realizar esta arte tão peculiar e comum entre os homens. Rs rs...
Este texto é uma metáfora, com certeza!