Postura; roupas; costumes: teatro. Assim que levanto da cama, sozinho em casa, inicio uma bela interpretação para mim. Se há outras pessoas, elas também merecem um show a parte. Visto-me de um modo “convencional” (caçoamos das perucas utilizadas em filmes de época, espero não ser motivo de piadas, por utilizar camiseta e bermuda, em um futuro longa), não posso esquecer do meu público, que já espera certas atitudes, figurinos e falas do meu personagem. Se o contraste é grande, os espectadores chiam, esperam o esperado.
O andar ereto e de olhar sério é o esperado. Qualquer personagem que ande de modo um pouco dissimulado e com sorrisos estampados no rosto é tido como personagem de comédia. Às vezes pode ser um dramaturgo, escondido atrás de uma máscara sorridente, mas as interpretações são consensos, e o medo de confrontá-las é inerente a platéia e aos próprios intérpretes. Mesmo porque, não há diferença entre palco e platéia, todos são artistas e espectadores, uma democrática horizontalidade teatral.
Remetendo novamente ao passado, tantos rituais, burocratizações e figurações para obter a mão de uma dama, decapitar o réu. Remeto ao presente e percebo a arbitrária semelhança, por sermos personagens-platéia existe a dificuldade de enxergarmo-nos em longas medievais.
Quando digo, interpretações para tudo, digo: interpretações para tudo. Para abrir a geladeira, para conversar internamente (diálogos-monólogos). Nada escapa do espetáculo - sentido literal da palavra nada, contrário de tudo (tudo no sentido de totalidade absoluta, o infinito viável). Poderia me alongar em exemplos infindáveis, mas a frase, “nada escapa do espetáculo”, interpretada no sentido literal, já homogeneíza todos os exemplos, a única coisa que poderia fazer, seria elencar alguns consensualizados mais pudicos para a humanidade: sexo, escatologia, religião.
4 comentários:
Profundamente auto-explicativo. Me fez pensar...
O motivo que leva as pessoas a encenarem diariamente está ligado à inevitável natureza humana, que nos obriga a levarmos mais em consideração a opinião alheia do que a própria (até porque opinião realmente própria não existe, é apenas uma escolha entre as várias opiniões alheias). Logo, nossa vida é regulada e guiada de acordo com os outros. Quem discordar está se iludindo.
Hummmm... nice one!
Afinal, somos um pouco de tudo que querem ou não que sejamos, as vezes é invévitável desagradar o grande público.
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