domingo, 14 de dezembro de 2008

Horrorshow

Postura; roupas; costumes: teatro. Assim que levanto da cama, sozinho em casa, inicio uma bela interpretação para mim. Se há outras pessoas, elas também merecem um show a parte. Visto-me de um modo “convencional” (caçoamos das perucas utilizadas em filmes de época, espero não ser motivo de piadas, por utilizar camiseta e bermuda, em um futuro longa), não posso esquecer do meu público, que já espera certas atitudes, figurinos e falas do meu personagem. Se o contraste é grande, os espectadores chiam, esperam o esperado.
O andar ereto e de olhar sério é o esperado. Qualquer personagem que ande de modo um pouco dissimulado e com sorrisos estampados no rosto é tido como personagem de comédia. Às vezes pode ser um dramaturgo, escondido atrás de uma máscara sorridente, mas as interpretações são consensos, e o medo de confrontá-las é inerente a platéia e aos próprios intérpretes. Mesmo porque, não há diferença entre palco e platéia, todos são artistas e espectadores, uma democrática horizontalidade teatral.
Remetendo novamente ao passado, tantos rituais, burocratizações e figurações para obter a mão de uma dama, decapitar o réu. Remeto ao presente e percebo a arbitrária semelhança, por sermos personagens-platéia existe a dificuldade de enxergarmo-nos em longas medievais.
Quando digo, interpretações para tudo, digo: interpretações para tudo. Para abrir a geladeira, para conversar internamente (diálogos-monólogos). Nada escapa do espetáculo - sentido literal da palavra nada, contrário de tudo (tudo no sentido de totalidade absoluta, o infinito viável). Poderia me alongar em exemplos infindáveis, mas a frase, “nada escapa do espetáculo”, interpretada no sentido literal, já homogeneíza todos os exemplos, a única coisa que poderia fazer, seria elencar alguns consensualizados mais pudicos para a humanidade: sexo, escatologia, religião.

4 comentários:

Ana Paula Gonçalves disse...

Profundamente auto-explicativo. Me fez pensar...

Anônimo disse...

O motivo que leva as pessoas a encenarem diariamente está ligado à inevitável natureza humana, que nos obriga a levarmos mais em consideração a opinião alheia do que a própria (até porque opinião realmente própria não existe, é apenas uma escolha entre as várias opiniões alheias). Logo, nossa vida é regulada e guiada de acordo com os outros. Quem discordar está se iludindo.

Anônimo disse...

Hummmm... nice one!

Aline Wernke disse...

Afinal, somos um pouco de tudo que querem ou não que sejamos, as vezes é invévitável desagradar o grande público.