terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Maliciosa, astuta, manhosa e fina

A discrição era imperceptível e sagaz. Corrigindo-me, a discrição era tanta, que imperceptível era a dona dessa qualidade tão sagaz. O ato de ser discreto não acompanha necessariamente a sagacidade, mas nesse caso acompanhava, e quem era sagaz era a qualidade discreta e não a dona.
Não posso dizer que ela, a dona, era imperceptível e sagaz, apesar da sagacidade que a dona tinha, mas essa não era a sagacidade maliciosa. A discrição dela, sim, era sagaz-maquiavélica. De tão predestinada a discrição, só descrevia. Descrição era o filme rodado em sua cabeça, observação era seu método.
De tão sagaz, a discrição perpetuava, de tanto perpetuar, a dona, que antes era só sagaz sem ser maquiavélica, se confundiu com a própria característica: a discrição. Essa, de tanta sagacidade-previsora, predestinou o vício da dona, pela descrição que a discrição propiciava.
A descrição se tornara um vício, já que a discrição não o era. A discrição e a dona já não se distinguiam mais. A dona transformara-se em imperceptível e sagaz; sagaz no mais amplo sentido da palavra. A dona era agora: malícia, astúcia, manha e finura.

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